Segunda sem Carne: o que é e seus impactos no meio ambiente

Uma política em meio à guerras mundiais se torna, depois de anos, uma campanha de saúde pública. É assim que surge a conhecida Segunda sem Carne, como assim?

Durante as duas guerras mundiais, o governo estadunidense utilizou da campanha para conseguir armazenar alimento para o exército americano e aliados. Só em 2003 a ideia retorna à sociedade com outro propósito: reduzir o consumo de carne para a prevenção de doenças crônicas.

Atualmente a campanha é intimamente relacionada aos movimentos vegetariano e vegano e tem o objetivo de conscientizar a população sobre os impactos que o uso de produtos de origem animal na alimentação tem sobre os animais, sociedade, nossa saúde e nosso planeta.

O movimento está presente em mais de 40 países, sendo o brasileiro o maior deles. Por aqui ele é promovido pela Sociedade Vegetariana Brasileira, que organiza um trabalho de divulgação da campanha, além de oferecer refeições vegetarianas nas segundas em parcerias com instituições públicas.

No ano de 2018 foram 67 milhões de refeições oferecidas.

Por que parar de comer carne?

Bruno Kelly/Reuters

Os motivos para reduzir a quantidade ou eliminar a carne consumida são muitos e vão de prevenção de doenças até o impacto socioambiental causado pela indústria pecuária:

1. Meio ambiente: Um dos impactos ambientais mais conhecidos da atividade pecuária é a emissão de gases do efeito estufa. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), somente a carne e laticínios são responsáveis por cerca de 14,5% desses gases.

Entre os diversas razões pra isso estão: o desmatamento e queimadas para abrir espaço para pastagem e produção de grãos usados para alimentar o gado, o consumo de uma quantidade exorbitante de água para manter a produção e a emissão de dióxido de carbono e gás metano por animais em confinamento.

A pecuária é responsável por 80% do desmatamento na Amazônia. No Pantanal, a maior parte dos focos de incêndio começaram ilegalmente em fazendas de gado, para criação e limpeza de pastos.

2. Indústria da fome: Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa a pecuária extensiva não ajuda a combater a fome, na verdade ela contribui para o desperdício global de alimentos.

São consumidos 2 a 10 Kg de proteína vegetal (como a soja) para produzir apenas 1Kg de proteína de origem animal.

Na verdade quem é responsável por garantir a alimentação no nosso país é a agricultura familiar, já que boa parcela do alimento produzido pelo agronegócio* é usado pra alimentação do gado e/ou exportado para outros países.

* Consideramos agronegócio o modo industrial de produção que depende de grandes áreas de terra e produz um tipo único de produto em grande quantidade.

3. Violência animal: As atuais granjas industriais, onde são criados mais de 90% dos animais, são fábricas que exploram animais concentrados em confinamento como se fossem máquinas produtivas.

Vacas destinadas à produção de leite, por exemplo, passam grande parte dos dias em confinamento, enquanto é feita a extração mecânica do leite, e são constantemente inseminadas artificialmente para que possam ser ordenhadas.

4. Saúde: de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira uma alimentação centrada em vegetais diminui o risco de diabetes, de infarto e outras doenças cardiovasculares, além de reduzir o risco de alguns tipos de câncer, como o do intestino grosso.

Os impactos da Segunda Sem Carne

Os dados coletados pelo movimento brasileiro indicam que tirando os produtos de origem animal por um dia na semana, uma pessoa é responsável por poupar:
  • 14Kg de CO2 emitidos na atmosfera – o equivalente a 100km rodados em um carro comum.
  • 24 metros quadrados de terra.
  • 3.400 litros de água. O equivalente a 26 banhos de 15 minutos.
  • 7Kg de grãos usados predominantemente como ração para animais.

O objetivo não é parar por ai. Segunda sem carne se propõe a ser apenas o empurrãozinho que faltava para repensarmos nossos hábitos alimentares e os impactos que eles causam. Dá pra imaginar como seria se simplesmente parássemos de comer carne?

De acordo com a WWF a adoção do vegetarianismo tem o potencial de reduzir em até 35% a Pegada Ecológica relacionada a alimentos de um cidadão residente na cidade de São Paulo.

* A Pegada Ecológica é uma forma de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo sobre os recursos naturais. Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta.

O futuro é possível?

Cristiano Mariz/VEJA

O cenário atual não é otimista, existe muito atraso e muito despreparo de quem está no poder. Mas ainda ainda é possível reverter as possibilidades de futuro, e mudar nossa dieta é apenas o primeiro passo nessa caminhada.

Quando pensamos em nos tornar indivíduos responsáveis pelas próprias ações, já estamos pensando coletivamente.

Para além das mudanças na nossa esfera pessoal, precisamos torná-las políticas e de grande escala. Escolhendo representantes que se importam, e que através de políticas públicas disseminem a alimentação consciente, fortaleçam o campo e práticas como agroecologia e hortas urbanas.

Para saber mais:

Aqui está uma série de conteúdos que falam justamente sobre os impactos causados pela indústria agropecuária, te convidamos a continuar se informando sobre o assunto.

Para entender os impactos do agronegócio:

“O Agronegócio pode ser sustentável?” (vídeo por Thiago Avila)
“O agrenegócio, Amazônia em chamas e Soberania nacional” (podcast Modefica)
– “Solo Fértil”(documentário)
– “Cowspiracy – O Segredo da Sustentabilidade” (documentário)
– “Food Matters” ou “O alimento é importante” (documentário)

 

Quanto mais falarmos das soluções, das possibilidades, mais elas tomarão forma e força!