Você já parou pra pensar na quantidade de lixo que produz durante seu período menstrual?
Apenas no Brasil, são 15 bilhões de absorventes descartáveis despejados em lixões e aterros, todo ano. Em 40 anos de vida fértil, serão 600 bilhões de resíduos não recicláveis e cerca 325 mil toneladas de lixo gerado (por Atlas do Plástico).
O maior problema? Esses produtos contêm até 90% de plástico em sua composição e, em sua maioria, vão parar em aterros e lixões, já que a reciclagem para esse tipo de lixo no Brasil ainda é insignificante.
Com o intuito de construir e incentivar uma menstruação sustentável do que a que estamos acostumadas, conversamos com duas mulheres que estão envolvidas nesse caminhar: Ana Paula Silva, gestora da Ecoabs e especialista em ecologia feminina; e a Marina Azambuja Lins, diretora de criação da Herself.
Para a Ana Paula uma menstruação sustentável é sobre escolher produtos que preservem a saúde pessoal, do planeta e sejam ainda mais econômicas.
“A maioria das mulheres usa absorventes descartáveis – externos, afixados na calcinha – ou internos. Não porque tenha sido escolhido entre um descartável ou um reutilizável, mas porque sempre foi assim”, acrescenta Ana.
Marina Lins compartilha que pra ela o conceito tem um significado mais abrangente:
“É a integração entre reduzir a quantidade de resíduos no ambiente e entre conforto, bem estar e naturalidade para menstruar.”
Reduzir o descarte de plástico: Os absorventes reutilizáveis costumam durar entre 3 anos até 5 anos, o equivalente a 60 ciclos menstruais. Reduzindo a zero o nosso descarte de plástico e reduzindo drasticamente a produção de outros resíduos.
Economia: A menstruação sustentável é 50% a 80% mais em conta do que a descartável. Apesar do investimento inicial ser mais alto, somando todos os absorventes descartáveis que compramos ao longo da vida o valor é muito mais alto do que o investimento em absorventes reutilizáveis.
Conforto: Utilizar protetores menstruais reutilizáveis garante que você sempre terá seu protetor menstrual disponível com você. Além de dizerem adeus à sensação de assada e aos desconfortos que normalmente acompanham nossa menstruação: como não poder aproveitar a piscina ou fazer determinado exercício físico.
Saúde vaginal: Os absorventes reutilizáveis ajudam a manter a saúde natural da vulva e vagina. Isso porque são livres de substâncias nocivas e ajudam a manter o equilíbrio do pH vaginal, diminuindo a chance de infecções e alergias. Além de não interagirem com as mucosas vaginais como os absorventes internos convencionais – portanto, não absorvem tecidos vaginais importantes para a saúde ginecológica.
Naturalizar a menstruação: Os absorventes reutilizáveis permitem um contato direto com o sangue menstrual, com o tempo esse contato nos permite entender sobre o nosso corpo e deixar de lado os tabus que foram construídos sobre o assunto.
Atualmente as opções disponíveis no mercado são os coletores e discos menstruais, as calcinhas absorventes e os absorventes ecológicos. Eles podem ser usados juntos, com as calcinhas ou absorventes servindo de apoio para os coletores menstruais ou isolados.
A vantagem é que já temos alternativas pra todas as opções descartáveis que conhecemos, e a chance de se adaptar a pelo menos uma delas é gigante.
No início esse tanto de contato com o próprio sangue pode parecer estranho, mas como nos lembra Marina: “a menstruação em absorventes reutilizáveis preserva muitas de suas características naturais, ao contrário do absorvente descartável – que altera e muito inclusive o cheiro do sangue!”
Para muitas pessoas o primeiro passo para naturalizar a menstruação e se libertar das experiências negativas com esse período é justamente abandonar os absorventes descartáveis.
“Uma das experiências negativas muito comuns relacionadas a menstruação, é o nojo do sangue, mas sabemos que é o sangue em contato com toda gama de químicos tóxicos, fragrâncias sintéticas e plástico, que proporciona uma experiência desagradável e cheira mal”, explica Ana Paula.
Você sabia que o cheiro desagradável que sentimos não é da menstruação em si, mas da reação química entre ela, os químicos do absorvente descartável, as bactérias da pele e o ar? Quem usa coletor menstrual já sabe: o sangue que sai de nós, tem só cheiro e cor de sangue (e ferro).
“Depois de abandonar os descartáveis, é muito comum que comecemos a querer entender mais sobre nossos ciclos, respeito-los, entender o valor do próprio sangue e aproveitarmos a parte boa de cada fase.” Ana Paula
Como bem nos lembra a equipe da Herself, se estamos falando sobre sustentabilidade precisamos lembrar também que grande parte das mulheres não tem acesso ao mínimo, como: banheiros, saneamento básico e protetores menstruais.
A Marina Lins nos conta que elas não acreditam que exista um único método ideal, confortável e até mesmo viável para todas as pessoas – justamente por causa dessa desigualdade.
“No caso dos reutilizáveis em geral, é necessário ter acesso à água limpa e sabão para lavá-los. Bem como, acesso a educação direcionada para entender como usá-los. Os absorventes reutilizáveis também necessitam de espaço para secar – o que pode ser um obstáculo importante para pessoas que estão imersas em ambiente com muitos tabus, ou mesmo para a população em situação de rua.”, explica a diretora criativa da Herself.
Por causa disso, mulheres e meninas do mundo todo correm risco de saúde, deixam de ir à escola e têm suas possibilidades de desenvolvimento limitadas.
Foi justamente para pressionar ações governamentais e colocar em prática ações por dignidade menstrual, que a Herself criou o projeto “Cadê o absorvente?.
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