Uma palavra que tenho trazido muito para o mês de maio aqui dentro da RJS é Coexistência.
Ao mesmo tempo que estamos constantemente focadas em formas de coexistir com a inconstância e complexidade de uma metrópole que tanto nos atravessa, me vi pensando nas outras buscas por coexistência que acontecem no micro, na vida pessoal.
Por exemplo, ao ter me tornado mãe vivenciei a mais forte sensação de atravessamento que já senti na vida, muito mais do que os atravessamentos da vida cotidiana no centro de SP.
Trouxe essa ideia de coexistir para a rotina de maternar, algo que coloquei na cabeça assim que me vi gestando meu filho. Sabia que o mundo ia me dizer o contrário muitas vezes, e por mundo eu digo não só às pessoas no geral, mas as estruturas, os costumes, o padrão que já existe naturalizado do que é ser mãe, o mundo vem em diferentes versões dizer ardidamente que “ser mãe é isso!”.
Se para o mundo ser mãe é deixar de existir aos pouquinhos, esquecer de si, entregas e renúncias infinitas, não ser bem vinda na maior parte dos lugares, algo está muito errado. Porque afinal, as mães estão criando uma nova sociedade todos os dias, deveríamos ser recebidas com apoio, afeto e escuta.
Ouvi de uma amiga esses tempos falas como “ter me tornado mãe, um trauma irreparável” e “ser mãe, sofrer micro e macro violências diariamente, às vezes totalmente invisíveis”. E são mesmo. Só o coração sente e mal consegue entender de onde aquilo veio.
Temos falado muito nos últimos anos, nosso coro cansado em denúncia a esse tratamento cruel que nos invisibiliza, falado de como as mães durante todo esse tempo lutam pela sua individualidade e lutam contra a imagem de “guerreira incansável”. Essa imagem de reconhecimento pela “luta diária” é só uma dessas micro violências quase invisíveis que só o coração sente e a mente nem detecta enquanto escuta.
Lutar infinitamente não é nem de longe o que deve deixar as maternidades mais leves. Queremos leveza, vida, diversão e também reconhecimento!
Com a minha experiência, tento diariamente, passinho por passinho, gesto por gesto, construir com meu filho uma dança de coexistência possível, saudável e feliz.
Me esforço para não absorver falas de dores alheias com a maternidade e com a infância: incoerências que não me cabem, críticas que não tem espaço para serem recebidas, todo esse ruído é que na verdade nos tira de nós mesmas.
Pois, observar um serzinho que é meio parte de você crescer, se desenvolver, aprender e acima de tudo nos ensinar, é uma das coisas mais transformadoras que já vivi. O crescimento do afeto e da confiança chega a arrepiar algumas vezes por dia, é como dizem mesmo: nunca vai existir um elo igual a esse na sua travessia pela vida.
É comum ver os adultos despejarem as frustrações nas crianças, adultos que não tiveram suas infâncias bem recebidas e acolhidas, é comum também ver mães exaustas e sem fôlego para fazer o seu melhor pelos seus filhos, e isso não é culpa desses pequenos, mas sim da estrutura patriarcal que não considera o bem viver na jornada materna.
Eu desejo que todas as mães do mundo possam um dia experimentar a liberdade, a sensação de apoio e descanso para poderem viver plenas e assim fazer de suas crias seres humanos melhores.
Vivo com alguns privilégios que algumas vezes me fizeram ter contato com essas sensações na minha jornada, e ainda não é sempre abundante. Penso muito nas múltiplas vidas e realidades que estão hoje enfrentando diferentes desafios e só posso ser, inspirar e reforçar o coro do bem viver para as mães de todo o mundo! Cuidar de quem cuida!
Feliz Dia de todas as Mães.