Agricultura familiar: promovendo sustentabilidade e segurança alimentar

A agricultura familiar, com suas raízes profundas, desempenha um papel fundamental na sustentabilidade da sociedade e do mundo. 

Baseada em princípios de trabalho coletivo, conexão com a terra e diversidade, essa forma de agricultura alimenta comunidades, preserva a biodiversidade e promove o desenvolvimento local. 

Diante disso, o texto a seguir abordará as características, pilares, tipos, diferenças entre o agronegócio e também o cenário da agricultura familiar no Brasil. Boa leitura!

O que é a agricultura familiar?

A agricultura familiar é uma forma de produção agrícola que se baseia no uso de mão de obra familiar, na diversificação de culturas e na integração com o mercado local. 

Ela é realizada principalmente em pequenas propriedades rurais e contribui para a segurança alimentar, a geração de renda e a preservação ambiental

Em 2006, por exemplo, a agricultura familiar chegou a representar cerca de 84,4% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil, segundo o último Censo Agropecuário. 

Uma das formas de valorizar e fortalecer a agricultura familiar é por meio da identificação dos seus produtos com o Selo Nacional da Agricultura Familiar (SENAF). 

O SENAF é um instrumento gratuito que reconhece a origem e a qualidade dos produtos da agricultura familiar, facilitando o seu acesso aos mercados institucionais e privados. 

Para solicitar o SENAF, os agricultores familiares devem possuir a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e se cadastrar no Sistema Vitrine da Agricultura Familiar.

A Vitrine da Agricultura Familiar é uma plataforma web cujo objetivo é ampliar a visibilidade dos produtos da agricultura familiar no Brasil. 

Ela oferece um catálogo de produtos e serviços, com informações sobre embalagem, valor nutricional, contatos do produtor e número de série para rastreabilidade. 

Qual a importância da agricultura familiar?

A agricultura familiar é um tipo de produção agrícola que se caracteriza pelo uso de mão de obra familiar, pela diversificação de culturas e pela integração com o mercado local. 

Ela é realizada principalmente em pequenas propriedades rurais e tem uma grande importância econômica, social e ambiental

Isso porque ela garante o abastecimento de produtos básicos como feijão, arroz, mandioca, milho, leite, ovos, frutas e hortaliças, essenciais para uma alimentação saudável e diversificada. 

Igualmente, a agricultura familiar contribui para a redução da fome e da pobreza no país, pois gera renda para milhões de famílias rurais que dependem da venda dos seus produtos. 

Do mesmo modo, a agricultura familiar é uma das principais fontes de ocupação e renda no campo. Já empregou cerca de 10 milhões de pessoas em setembro de 2017, o que correspondia a 67% da força de trabalho atuante em atividades agropecuárias no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Assim como, a agricultura familiar também estimula o desenvolvimento local e regional, pois dinamiza a economia dos municípios. Além disso, cria oportunidades de negócios, fortalece as redes sociais e valoriza a cultura e a identidade dos agricultores familiares. 

Além disso, a agricultura familiar é uma forma de produção que respeita o meio ambiente e os recursos naturais, pois utiliza técnicas de manejo sustentável do solo, da água e da biodiversidade. 

Bem como, a agricultura familiar também promove a diversificação de culturas, o que aumenta a resistência às pragas e doenças, reduz o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos e melhora a qualidade dos produtos. 

Desta forma, a agricultura familiar conserva as sementes crioulas, que são variedades adaptadas às condições locais e que representam um patrimônio genético valioso. 

Características da agricultura familiar

A mão de obra familiar é uma das principais características da agricultura familiar, pois significa que os trabalhadores são membros da mesma família ou parentes próximos. 

Isso implica em uma relação mais próxima e afetiva com a terra, com o trabalho e com os produtos. 

Da mesma maneira, a mão de obra familiar também permite uma maior autonomia e flexibilidade na gestão da propriedade e na organização das atividades, além de reduzir os custos com contratação de empregados. 

Já a pequena propriedade rural é outra característica da agricultura familiar, pois define o tamanho e o limite da área cultivada. 

No Brasil, a legislação considera como agricultor familiar aquele que possui uma propriedade menor que quatro módulos fiscais, que é uma unidade de medida que varia conforme o município e a região do país. 

Nesse sentido, a pequena propriedade rural favorece a diversificação de culturas, a otimização do uso do solo e da água, a preservação da paisagem e a identidade cultural dos agricultores familiares. 

Outra característica da agricultura familiar é a diversificação da cultura.  Pois significa que os agricultores familiares plantam diferentes tipos de produtos, tanto para o consumo próprio quanto para a venda. 

Ou seja, a diversificação de culturas aumenta a segurança alimentar e nutricional das famílias, pois garante uma alimentação saudável e variada. 

Além disso, a diversificação de culturas melhora a qualidade dos produtos, aumentando a resistência às pragas e doenças, reduz o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos e enriquece o solo com matéria orgânica. 

E, por fim, mas não menos importante, a integração com o mercado local é outra característica da agricultura familiar, pois significa que os agricultores familiares vendem o excedente da sua produção para feiras, mercados, cooperativas, escolas, hospitais e outros compradores locais. 

Isso porque a integração com o mercado local gera renda e emprego para as famílias rurais. É importante para dinamizar a economia dos municípios, fortalecer as redes sociais e valorizar os produtos da agricultura familiar. 

Além disso, essa integração reduz os custos com transporte, armazenamento e intermediários, aumentando a competitividade dos produtos.

Entenda os pilares da agricultura familiar

A agricultura familiar é uma modalidade de produção que se baseia na gestão e no trabalho da própria família, em pequenos estabelecimentos rurais. 

Esse setor tem uma grande relevância econômica, social e ambiental. A seguir, vamos abordar os quatro pilares que sustentam a agricultura familiar:

  • Crédito rural

O acesso ao crédito rural é fundamental para que os agricultores familiares possam investir em suas atividades, melhorar sua produtividade e renda, e enfrentar os desafios climáticos e de mercado. 

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é o principal instrumento de financiamento para esse público, oferecendo condições diferenciadas de juros, prazos e garantias. 

  • Assistência técnica e extensão rural (Ater)

A assistência técnica e extensão rural consiste em um conjunto de serviços que visam orientar os agricultores familiares sobre as melhores práticas de manejo, uso de tecnologias, gestão, organização e comercialização. 

A Ater é essencial para promover a inovação, a sustentabilidade, a inclusão produtiva e social e a qualidade de vida no campo. 

  • Comercialização

A comercialização é o processo de venda ou troca dos produtos agrícolas, que pode envolver diferentes canais, como feiras livres, mercados institucionais, cooperativas, agroindústrias ou exportação. 

A comercialização é um dos maiores desafios para os agricultores familiares, que muitas vezes enfrentam dificuldades de acesso aos mercados, baixa remuneração, concorrência desleal e falta de infraestrutura. 

Para superar esses obstáculos, existem políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compram alimentos da agricultura familiar para abastecer escolas e entidades socioassistenciais. 

  • Cooperativismo

O cooperativismo é uma forma de organização econômica e social baseada na cooperação entre os associados, que compartilham objetivos comuns e valores como solidariedade, democracia e participação. 

Ou seja, o cooperativismo é um pilar importante para a agricultura familiar, pois permite ampliar o acesso aos mercados, reduzir os custos de produção, agregar valor aos produtos, fortalecer o poder de negociação e promover o desenvolvimento local. 

Tipos de agricultura familiar

Existem diferentes tipos de agricultura familiar, que se distinguem conforme as características dos produtores, dos sistemas produtivos, dos mercados e das políticas públicas. 

A seguir, apresentamos quatro tipos de agricultura familiar:

Agricultura familiar tradicional

A agricultura familiar tradicional é aquela que utiliza técnicas rudimentares e ancestrais de cultivo, baseadas no conhecimento popular e na adaptação ao meio ambiente. 

Esse tipo de agricultura é voltado para a subsistência das famílias e para o consumo local, sendo pouco integrado aos mercados. 

A mão de obra é predominantemente familiar e a diversificação da produção é uma estratégia para garantir a segurança alimentar e a renda complementar. 

A agricultura familiar tradicional envolve diversos grupos e comunidades, como silvicultores, aquicultores, pescadores, extrativistas, povos indígenas e quilombolas.

Agricultura familiar moderna

Já a agricultura familiar moderna é aquela que utiliza técnicas avançadas e inovadoras de cultivo, baseadas no uso de tecnologias, insumos, crédito e assistência técnica. 

Esse tipo de agricultura é voltado para a produção em larga escala e para a exportação, sendo altamente integrado aos mercados. 

A mão de obra pode ser contratada ou terceirizada e a especialização da produção é uma estratégia para aumentar a produtividade e a competitividade. 

A agricultura familiar moderna envolve principalmente produtores que possuem maior acesso a recursos financeiros, infraestrutura e políticas públicas. 

Agricultura familiar agroecológica

Enquanto isso, a agricultura familiar agroecológica é aquela que utiliza técnicas sustentáveis e orgânicas de cultivo, baseadas no respeito à biodiversidade, ao equilíbrio ecológico e à saúde humana. 

Esse tipo de agricultura é voltado para a produção de alimentos saudáveis e de qualidade, sendo parcialmente integrado aos mercados. 

A mão de obra é familiar ou coletiva e a diversificação da produção é uma estratégia para preservar os recursos naturais e gerar renda alternativa. 

A agricultura familiar agroecológica envolve principalmente produtores que possuem consciência ambiental, social e política, que participam de redes solidárias, movimentos sociais e organizações não governamentais. 

Agricultura familiar bioeconômica

A agricultura familiar bioeconômica é aquela que utiliza técnicas de exploração dos recursos da biodiversidade, baseadas no aproveitamento dos potenciais econômicos, sociais e ambientais dos biomas brasileiros. 

Esse tipo de agricultura é voltado para a produção de bens e serviços que valorizem a sociobiodiversidade, sendo moderadamente integrado aos mercados. 

A mão de obra é familiar ou comunitária e a diversificação da produção é uma estratégia para promover o desenvolvimento local e regional. 

A agricultura familiar bioeconômica envolve principalmente produtores que possuem vínculos culturais, históricos e territoriais com os ecossistemas naturais, que buscam alternativas para gerar renda sem comprometer o patrimônio ambiental. 

Agricultura familiar e agronegócio: quais as diferenças?

A agricultura familiar e o agronegócio são dois segmentos do setor agrícola que apresentam diferenças significativas em vários aspectos, como a escala e a diversidade da produção, o impacto ambiental e social, a geração de emprego e renda e o acesso a políticas públicas. 

Com isso, a agricultura familiar é baseada na pequena propriedade de terra, na produção diversificada e sustentável, na utilização de mão de obra familiar e na adoção de técnicas tradicionais e agroecológicas. 

Ou seja, a agricultura familiar preserva os recursos naturais e a cultura dos povos e comunidades tradicionais, gera mais emprego e renda no campo e produz alimentos saudáveis e de qualidade. 

Já o agronegócio é firmado na grande propriedade de terra, na produção homogênea e intensiva, na utilização de mão de obra contratada ou terceirizada e na adoção de técnicas avançadas e inovadoras.

O agronegócio degrada os recursos naturais e a cultura dos povos e comunidades tradicionais, gera menos emprego e renda no campo e produz alimentos contaminados por agrotóxicos, fertilizantes e transgênicos. 

Além disso, a agricultura familiar tem menos acesso a políticas públicas do que o agronegócio, pois enfrenta dificuldades para obter crédito rural, assistência técnica, comercialização, cooperativismo e infraestrutura. 

Enquanto isso, o agronegócio tem mais acesso a políticas públicas do que a agricultura familiar, pois conta com facilidades para obter crédito rural, assistência técnica, comercialização, cooperativismo e infraestrutura. 

Além disso, o agronegócio tem mais representação política do que a agricultura familiar.

Agricultura familiar: exemplos

A agricultura familiar é um tipo de agricultura desenvolvida em pequenas propriedades rurais, por grupos de famílias que dependem da terra para sua sobrevivência e produzem uma grande diversidade de alimentos. 

A seguir, confira quatro exemplos práticos da agricultura familiar:

Produção de milho

A agricultura familiar no Brasil tem no milho um de seus principais produtos. Segundo o último Censo do IBGE, a maior parte da produção existente, 94,3%, vem de pequenos produtores. Isso mostra que essa produção beneficia muitas famílias rurais.

Produção de mandioca

A mandioca é uma das culturas mais antigas e mais versáteis da agricultura familiar no Brasil, sendo responsável por cerca de 87% da produção nacional

A mandioca é cultivada em todas as regiões do país, mas se destaca no Nordeste e no Norte, onde há uma maior adaptação da planta às condições climáticas e uma maior importância cultural e econômica do produto. 

Produção de arroz

O arroz, além de ser um alimento super popular na mesa do brasileiro, também é um dos produtos mais importantes para a agricultura familiar brasileira, que produz 34% de toda a oferta nacional. 

Produção de batata

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o plantio de batata no Brasil se divide entre o agronegócio, com 100 mil hectares, e a agricultura familiar, com 30 mil hectares. A produção total desse produto chega a 3,4 milhões de toneladas por ano. 

Produção de banana

A banana é uma fruta muito produzida e consumida pelos brasileiros. Quase metade da oferta nacional vem da agricultura familiar, sendo o Brasil o 4º maior produtor de banana do mundo, e exporta apenas 1% do que é colhido. 

Cada brasileiro come em média 25 quilos de banana por ano. A produção é de cerca de 7 milhões de toneladas por ano. Outro fato interessante é que essa fruta é cultivada em todas as regiões do nosso país.

Produção de feijão

O feijão é outro produto com grande participação da agricultura familiar na sua produção. O Brasil é o 3º maior produtor de feijão do mundo e colhe em média 2,8 milhões de toneladas por ano. Desse total, 70% vem dos grupos menores. Isso mostra como é importante apoiar ainda mais esses grupos. 

Produção de café

O café é um dos produtos mais importantes da agricultura familiar. Estima-se que 30% da oferta total é feita por esses grupos menores. Esse cultivo consegue gerar emprego para mais de 8 bilhões de pessoas.

Agricultura familiar no Brasil

A agricultura familiar é um segmento importante e estratégico para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil. 

A seguir, apresentamos dados e informações sobre a agricultura familiar no país:

Conceito e legislação

A agricultura familiar é definida pela Lei nº 11.326, de 2006, como aquela praticada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores, indígenas, quilombolas e outros povos e comunidades tradicionais. 

Esses sujeitos devem atender a alguns requisitos, como: possuir área de até quatro módulos fiscais; utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do estabelecimento; ter renda familiar originada principalmente das atividades agropecuárias e não agropecuárias do estabelecimento; e dirigir o estabelecimento com a participação do núcleo familiar. 

Participação e distribuição

A agricultura familiar já representou cerca de 84% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil, ocupando uma área de 80,25 milhões de hectares, o que corresponde a 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários do país. Os dados são do último Censo Agropecuário, realizado pelo IBGE em 2017. 

De acordo ainda com o levantamento, a região Nordeste concentrava a maior parte dos estabelecimentos da agricultura familiar (49%), seguida pelas regiões Sul (22%), Sudeste (12%), Norte (10%) e Centro-Oeste (7%). A região Sul é a que possui a maior área média por estabelecimento (18,37 hectares), enquanto a região Nordeste possui a menor (6,86 hectares). 

Produção e comercialização

Entre as principais culturas produzidas pela agricultura familiar estão: café (50%), mandioca (87%), feijão (70%), leite (60%), milho (46%), arroz (34%) e trigo (21%). Além disso, a agricultura familiar também produz frutas, hortaliças, mel, borracha, castanha, açaí e outros produtos da sociobiodiversidade. 

A agricultura familiar comercializa seus produtos por meio de diversos canais, como feiras livres, mercados institucionais, cooperativas, agroindústrias ou exportação. 

Desafios e oportunidades

Não é de hoje que a agricultura familiar enfrenta diversos desafios para se manter e se desenvolver no Brasil. Entre os principais problemas, estão: 

  • A falta de acesso ao crédito rural;
  • À falta de assistência técnica e extensão rural (Ater);
  • À falta de infraestrutura, à educação; 
  • À falta saúde e à segurança pública; 
  • A concorrência desleal com o agronegócio; 
  • A vulnerabilidade às mudanças climáticas; 
  • A dificuldade de sucessão geracional; e a baixa representação política. 

Por outro lado, a agricultura familiar também possui diversas oportunidades para se fortalecer e se valorizar no Brasil, como: 

  • A demanda crescente por alimentos saudáveis e orgânicos; 
  • O reconhecimento da sua importância para a segurança alimentar e nutricional; 
  • A valorização da sua contribuição para a conservação ambiental e a promoção da agroecologia; 
  • O apoio de movimentos sociais e organizações não governamentais; 
  • E a participação em redes solidárias e mercados locais. 

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